Sunday, September 20, 2015

EZEQUIEL NEVES & pop music journalism

Brazilians had a 'Revista do Rock' since 1960 but as rock became 'progressive' and intelectual as of 1965 when Bob Dylan went 'electric' and the Beatles producer added a string-quartet to 'Eleanor Rigby' we suddenly needed something more substantial than a magazine that catered only for teenie-boppers.

Ezequiel Neves was the first Brazilian journalist I ever knew who actually wrote about pop music as an art form. He started writing for Sao Paulo's 'Jornal da Tarde' in 1968; at least 1 year before Luiz Carlos Maciel wrote about US counter-culture for 'O Pasquim', a left-of-centre weekly printed in Rio de Janeiro as of 26 June 1969,

Ezequiel went deep in reviewing the latest albums brought forth by the likes of The Rolling Stones, The Beatles, Simon & Garfunkel etc.


Ezequiel Neves circa 1969 at daily 'Estado de S.Paulo'-'Jornal da Tarde' office on Rua Major Quedinho looking over Rua Martins Fontes.

Ezequiel Neves was born in Belo Horizonte on 29 November 1935 and read quite a bit while growing up. He turned into an actor doing Shakespeare and Samuel Beckett. He migrated to Sao Paulo in 1965 when he was 30 years old. In 1968 he was writing about pop music for 'Jornal da Tarde' the best evening paper in Brazil then. Apparently his main source of information was San Francisco's Rolling Stone magazine which he devoured as soon as it received it. Zeca was an enthusiast and it showed through his texts.

In this 2008 interview Ezequiel talks about his early days as a theatre actor in Belo Horizonte, as a pop-music columnist in São Paulo, his experience editing the Brazilian version of the Rolling Stone magazine plus his trip to New York in September 1969 and the 3 months he spent in London in 1970.

Você fez carreira no teatro?

Fiz uns 5 ou 6 Shakespeare, mas acho uma chatice, fiz porque dava dinheiro. Em Belo Horizonte eu fazia muito Samuel Beckett, que fala sobre o nada.

Como v. estreou no 'Jornal da Tarde'?

Cheguei em São Paulo em 1965, com 30 anos, vou fazer 73 em novembro (de 2008). O Ivan Angelo e o Mauricio Kubrusly (editor de variedades junto com Fernando Morais) me convidaram para escrever no 'Jornal da Tarde', que era a estrelinha do vestuto 'Estadão'. Escrevi sobre o disco ‘Lady in Satin’, da Billie Holiday, mas, logo re-descobri o rock. Expliquei aos editores que não havia mais jazz, entende? Em 1968 a musica pop entrou com força total. Chegou uma hora que eu falei com Ivan e Maurício: ‘Só dá rock!’. ‘Então vai e escreve sobre rock!’, e eu meti bronca. Eu escrevi numa época maravilhosa, porque tinha Jimi Hendrix, Doors, Janis Joplin, uma efervescência total, esse negocio me fascinou.

Antes você nem escutava rock?

Já! Meu 1º disco de rock foi um 78 rpm do Bill Halley. Depois ouvi muito Elvis Presley, pa pa pa... (pausa). O sistema é foda, né! Elvis era um menino de cabelos claros, mexia com a pélvis. Isso era coisa de negro. Apaixonante, mas o sistema o domou, mandou ele para o exército.

Por quanto tempo você ficou no 'Jornal da Tarde'?

Uns 2 anos. O rock tomou conta de mim. Escrevia sobre Doors, Rolling Stones, que são minha paixão, Beatles... Depois veio Woodstock. Surgia ali a Nação Woodstock. Ninguém esperava por aquilo. O Festival de Woodstock aconteceu em agosto de 1969, e viajei a New York, pela 1ª vez, em setembro de 1969. Cheguei quando os grupos que tocaram em Woodstock estavam em temporada no Fillmore East, templo máximo da contestação. Mas note como o sistema é mesmo foda. Depois do sucesso de Woodstock, veio a barra-pesada do Festival de Altmont. Um inferno! Os caretas queriam dizer: ‘Sosseguem, sosseguem, porque o rock é perigoso!’

Outra tentativa de domar o rock...

O sistema faz essas coisas. Depois dessa viagem a New York, São Paulo se tornou chata. Então comecei a queimar maconha, o que foi ótimo. Em seguida, viajei a Londres, em 19 Setembro 1970. No avião pude ler as matérias sobre a morte de Jimi Hendrix no dia anterior. Pouco antes de embarcar, havia encontrado Baby Consuelo na rua, e ela me contou: ‘Hendrix morreu!’ Cheguei à Inglaterra e, duas semanas depois, 4 Outubro 1970, morria Janis Joplin (pausa). Londres me possibilitou tudo. Foi ótimo pois vi tudo que viria a acontecer, como o Faces, ainda com Rod Stewart, Eric Clapton com Derik & the Dominoes, Emerson, Lake & Palmer. Mas não era a minha, eu era mais Stones.

Como você bancava essas viagens?

New York eu paguei com meu dinheiro, mas Londres foi uma herança que recebi de minha avó. Não pensei duas vezes e fui viver como um londrino, aluguei um quartinho numa rua ótima. Fui com 700 dolares e maconha escondida em bombons Sonho-de-Valsa! (risos). Levei p’ra consumo, mas vi que tinha levado muito e todo mundo queria. O Dé, baixista do Barão Vermelho, falava: ‘Zeca, hoje 700 dolares é p’r’um dia em Londres!’. Mas a vida era muito barata, era uma espécie de casa de repouso lesérgica. Muito bom... Ai eu me mudei p’ro Rio em 1972, pois o Luiz Carlos Maciel foi ser editor da edição brasilera da revista Rolling Stone.

Na Rolling Stone, eu achava a seção de cartas dos leitores o melhor da revista. Jamari França estreou ali, num texto que metia o pau em mim. Ele dizia que eu não entendia nada de rock, que era um panaca, o maior palhaço! O Luiz Carlos Maciel leu a carta e me perguntou: ‘O que é isso?’. Respondi: ‘Vou publicar’ (risos). Lá havia liberdade para se falar o que fosse.

É verdade que era uma versão pirata da Rolling Stone americana?

Não era pirata pois a marca pertencia a 2 gringos que compraram os direitos e resolveram fazê-la no Brasil, achando que ia dar muito dinheiro, mas durou um ano. Já estreou falida em janeiro de 1972, pois o número Zero consumiu o dinheiro todo. Mas a gente recebia o material da Rolling Stone norte-americana , e em junho os gringos suspenderam a remessa do material. Eu falei com os donos da revista: ‘Olha, eu tô fazendo essa revista, vim p’r’o Rio, mas vocês tem que pelo menos pagar meu aluguel, senão eu volto p’ra São Paulo. E eles pagaram. Durante um ano eu aluguei um apartamentinho delicioso na Farme de Amoedo, em Ipanema.

José Ezequiel Moreira Neves nasceu em Belo Horizonte, em 1935. Em 1965, transferiu-se para São Paulo, onde trabalhou com teatro ao lado de Antunes Filho. Em 1968, assumiu a crítica musical do Jornal da Tarde. Nos anos 1970, também trabalhou no jornal Rolling Stone e revista Pop.


12 February 1970 - Ezequiel reviews Creedence Clearwater Revival's 'Green River' and former teenager-heart-throb Paul Anka.
19 February 1970 - Ezequiel explains there was a new tendency - started in 1969 - in which members of established bands left their original groups and got together with members of other bands forming what was then called 'super-groups'. Crosby (fromer Byrds), Stills (former Buffalo Springfield) and Nash (former Hollies) was one of the 1st super-groups. Blind Faith is then introduced as a new super-group featuring Steve Windwood (from Traffic). Eric Clapton & Ginger Baker (from Cream which was actually the first super-group) and Rick Gresh (from Family). Ezequiel comes to the conclusion that Blind Faith was not as good as Crosby, Stills & Nash
17 March 1970 - James Brown according to Ezequiel Neves. This is vintage Ezequiel. When he liked something he wrote enthusiastically about it and he convinced the reader that the product he was writing about was really good. See the way he goes about James Brown's youth and hardship. He ends up winning you over.
9 April 1970 - Ezequiel could be biased when he was in the mood. Everyone knew he was a Rolling Stones-fan and had raved about 'Through the past, darkly', a Stones compilation-album released earlier in 1970 (see the review at a previous post: http://international-pop.blogspot.com.br/2015/08/rolling-stones-in-brazil-1965-1970.html). Well, now it was The Beatles time: Apple released an album containing singles that had not been included in albums so far. Actually, 'Hey Jude' makes a lot more sense than 'Through the past, darkly'... but Ezequiel could only pan the album declaring it 'weak'. Jee, weak? Are you out of your rocks? 'Rain' is one of my favourite Beatles tunes ever!!! 'Paperback writer' is brilliant! Not to mention 'Lady Madonna', Harrison's 'Old brown shoe' etc. 

Then, Ezequiel goes and thrashes 'Let it be', not heeding Mother Mary's words of wisdom. Ezequiel says 'You know my name' (Look up the number) starts well but then 'degenerates' into a joke mixed with a Latin rhythm. There you are, Ezequiel was culturally colonized after all. He confessed it in this simple sentence: ... na face B, apesar de começar bem, transforma-se logo depois - misturada com ritmos latinos - em uma brincadeira gratuita e idiota
Ezequiel Neves writes about his favourite subject: The Rolling Stones for monthly magazine 'Realidade', June 1970.
23 April 1970 - Ezequiel explains Led Zeppelin. And that was Ezequiel's best feature: he supplied information about members' former bands and how they came to be united in another 'super-group'. 
Then, he reviews Engelbert Humperdinck's album in a civilized way giving the 'easy-listening' singer his due respect. He even tells Humperdinck's real name: Gerry Dorsey! 
4 February 1971 - Ezequiel writes about Yoko Ono's Plastic Ono Band album but he doesn't say it was recorded simultaneously with John Lennon's 'Plastic Ono Band'. In other words: 2 albums were recorded in October 1970, had the same sleeve but were released separately. Maybe Ezequiel didn't have the information in the first place. Ezequiel then is enthusiastic about Crabby Appleton and thrashes Tommy James album without the Shondells.
8 February 1971 - Caetano Veloso told a newspaper Ezequiel Neves was known by the Brazilian exile London community as 'Bootleg', a nickname he got because he was really enthusiastic about those records when he stayed in London in late 1970: 'pois sempre aparecia com um disco pirata do Velvet Underground ou do Dylan'.  Here he teels all there is to know about bootleg albums in the USA and the UK.
22 February 1971 - Ezequiel Superstar...
21 September 1971 - Look what Ezequiel wrote about War's first album: 'Este septeto negro surgiu o ano passado (1970), tendo à frente o 'branco' cantor de blues Eric Burdon. O titulo do LP era 'Eric Burdon declares War' e constitui um dos mais interessantes lançamentos de 1970. Agora War retorna sem Burdon que preferiu apenas ajudá-los nas sessões de gravação realizadas na California. A ausências de Burdon fêz com que War perdesse um de seus principais atrativos'.

Well, to start with War was not a 'black band'. War was an integrated band made up of black and white elements. I don't know why Ezequiel says Eric Burdon was 'white' with inverted commas. Burdon was not only White but British to boot. And War turned out to be a great band who did not need Eric Burdon or anybody else to prove their worth.

28 September 1971 - If Mohammed doesn't go to the mountain... well, the mountain comes to Ezequiel Neves... He is outraged that Brazilian EMI had not released any Pink Floyd album in Brazil as late as September 1971... so Ezequiel goes to Museu do Disco on Rua Dom Jose de Barros, 329 - the best record shop in Sao Paulo - for they imported albums straight from the USA and UK (for a very steep price) and reviews 'Ummagumma' and 'Atom heart mother' in one go!
30 September 1971 - Ezequiel Neves writes about Brazilian show business for the 1st time ever when Joao Gilberto, Caetano Veloso and Gal Costa had a special musical hour at TV Tupi in Sao Paulo that was taped on 8 August 1971 and beamed on 29 September 1971 from 8:30 to 10:00 PM.
Brazilian Rolling Stone, 29 February 1972;  Ezequiel reviews what would be The Mamas & the Papas' last album 'People like us'.

Ezequiel morreu em 7 Junho 2010 - dia em que completou-se 20 anos da morte de Cazuza, no Rio de Janeiro. O produtor musical mineiro tinha 74 anos e sofria de câncer no cérebro.


‘Morreu uma das pessoas mais adoráveis que já conheci. Ezequiel Neves, o Bootleg (como o chamávamos em Londres, pois sempre aparecia com um disco pirata do Velvet Underground ou do Dylan), Zeca Jagger, o inventor do Barão Vermelho, o pai espiritual de Cazuza. Feito jornalista, já no meio dos anos 70, ele escreveu uma vez que eu era ‘muito devagar’ (os jornalistas precisavam dizer alguma coisa contra mim para fazerem carreira: era um pré-requisito natural). Convidado a uma festa, cheguei e toquei a campainha do apartamento. Abriu-me a porta Ezequiel (que era também um convidado). Lancei à queima-roupa: ‘Devagar e sempre!’ Ele me cobriu de beijos’. Caetano Veloso (O Globo, 9 July 2010). 
15 September 1968 - Ezequiel Neves was in the cast of 'O  milagre de Annie Sullivan' (The miracle worker) which was in its 14th month at Teatro Taib. It opened in July 1967

This was probably Ezequiel's last acting job due to his many journalist activities first with 'Jornal da Tarde' and then moving to Rio de Janeiro where he published 'Rolling Stone' and went on to produce records. 

Nascido em Belo Horizonte, em 30 novembro 1935, filho de um cientista, cedo se envolveu na vida cultural da capital mineira. Entre 1956 e 1958, Ezequiel publicou alguns desses contos na revista literária 'Complemento', que coeditou junto ao escritor Silviano Santiago e o escritor Ivan Ângelo. Ele também frequentava assiduamente o Clube de Cinema; o Teatro Experimental, dirigido por Carlos Kroeber; e o grupo de dança de Klaus e Angel Vianna. Entre os jovens artistas e intelectuais de Belo Horizonte circulavam ainda o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, os atores Jonas Bloch e Rodrigo Santiago e Fernando Gabeira.

Graças ao teatro, em 1965, Ezequiel Neves trocou Belo Horizonte por São Paulo, após atuar com seu grupo mineiro numa montagem de 'Sonhos de uma noite de verão', de Shakespeare. Em seguida, integrado ao elenco do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), traballhou com Cacilda Becker e participou de uma montagem de “Zoo story”, de Edward Albee. Ainda em São Paulo, foi para o grupo de Antunes Filho, em “A megera domada”, e, depois, atuou em “Julio Cesar” ao lado de Jardel Filho.

Apesar do talento para o teatro, a paixão pela música bateu mais alto. Em fins de 1960, o disco de estreia do grupo The Doors converteu-o ao rock – até então, ele só ouvia jazz, de Billie Holiday e Frank Sinatra a Miles Davis, e artistas brasileiros como Elizeth Cardoso e João Gilberto, paixões que a acompanharam até o fim – e, aos poucos, Ezequiel trocou o palco pelas redações, virando crítico de música do recém-criado Jornal da Tarde (então o veículo vespertino do “Estado de São Paulo”). Em entrevista ao Globo, ao completar 60 anos, Ezequiel Neves relembrou essa passagem:

– Tomei ácido lisérgico e descobri que , se eu não conseguia ser eu mesmo, não tinha porque tentar ser outros personagens . A experiência aconteceu em 1969, ainda tentei ficar no palco até 1970, quando fui para Londres fazer teatro. Foram 3 meses de desbunde. Na volta, ainda fiz 'A ultima peça', de José Vicente. Um espetáculo totalmente anárquico, todo mundo fumava maconha e tomava ácido.

Em 1971, nova mudança. Ezequiel aceitou o convite de Luiz Carlos Maciel e foi ao Rio para co-editar a versão brasileira, e pirata (sem licença dos donos nos EUA) da revista Rolling Stone, que durou um ano. Em seguida, ao lado de Ana Maria Bahiana e Tárik de Souza, criou a revista “Rock: A história e a glória” (que, em 1976, daria lugar ao “Jornal de Música”). É desse período os pseudônimos Zeca Jagger (homenagem ao seu maior ídolo, Mick Jagger, dos Rolling Stones), Zeca Zimmerman (este, o sobrenome de batismo de Bob Dylan) e Angela Dust.
Ezequiel Neves raves about David Bowie's Berlin phase for 'Homem' magazine, March 1978.
Ezequiel Neves & Cazuza from Barão Vermelho. 

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